Aula 05 - Aplicação da Mecânica Quântica
Confira o usos de algumas tecnologias desenvolvidas pela Mecânica Quântica
em nosso dia a dia
Por muito tempo, o mundo que conhecemos parecia seguir regras
facilmente compreendidas por nossas intuições. E muitas descobertas científicas
vieram a partir destas intuições: a gravidade tende a puxar tudo para “baixo” –
para o centro da Terra; ao observar um navio desaparecendo no horizonte, ele
desaparece por “partes”, sendo a última parte o mastro, e assim pode-se
concluir que a Terra não é plana; a água é indispensável à vida na Terra; e
assim por diante.
Mas isso tudo mudou com a mecânica quântica. Este campo de estudo colocou
a intuição humana de cabeça para baixo. Elétrons são, ao mesmo tempo, onda e
partícula, e a forma como se comportam muda apenas pela observação; partículas
são “entrelaçadas” de tal forma que podem se comunicar quase que
instantaneamente a distâncias absurdas; isso só para citar alguns exemplos.
Neste texto, não pretendo entrar no mérito de explicar a física
quântica, coisa que já foi feita várias vezes aqui no Astropt (por mim e por
especialistas de verdade que sabem muito mais do que eu sobre o assunto).
Colocarei alguns links para você se aprofundar ao final deste texto. O que
quero mesmo fazer é aludir a uma frase que o Carlos usa com frequência, e que é muitíssimo adequada: “a ciência não é democrática. Por exemplo, o facto da
gravidade ou da electricidade funcionarem, não depende da quantidade de pessoas
que acreditam nisso”.
Esta frase é adequadíssima por que ela aponta para uma
característica fundamental da ciência: A capacidade de traduzir modelos científicos em aplicações no mundo
real. Graças ao nosso conhecimento da gravidade, movimento e
aceleração somos capazes de sair do nosso planeta e voar todos os dias em vôos
comerciais de um continente a outro. Graças ao nosso conhecimento sobre
energia, somos capazes de coletar eletricidade do sol, do movimento e da fissão
de átomos.
Tudo isso tem aplicação prática no dia a dia. Sem estas
descobertas, você provavelmente não estaria lendo este texto num computador,
que funciona a eletricidade, nem faria aquelas tão desejadas férias em Machu
Picchu ou Stonehenge.
E é aí que retornamos para a Física Quântica. Andei reparando
que muitas pessoas interessadas em ciência (algumas que inclusive se consideram
céticos), principalmente pela ignorância em relação a como a ciência funciona,
possuem sentimentos confusos em relação a mecânica quântica, o que muitas vezes
os levam a acreditar em vigarices pseudocientíficas e documentários tolos
como “Quem Somos Nós?”.
Um dos motivos que consegui perceber é a crença de que a física quântica não é
uma teoria “comprovada” (sim, lá vamos nós de novo), por que não tem aplicação
no mundo real. Acham que, por que este campo de estudo trata do muito pequeno,
que não há um impacto relevante na vida dos cidadãos.
Estas pessoas, é claro, não
poderiam estar mais enganadas. As aplicações da teoria quântica
no dia a dia não são novas, e graças à ela fomos capazes de aperfeiçoar e
inovar em diversas tecnologias que usamos hoje. Vou citar apenas alguns
exemplos que possuem profunda relevância no mundo de hoje:
Transístor:
O que é: Componente eletrônico indispensável para qualquer
equipamento de eletrônica, que age tanto como amplificador quanto como um
switch para sinais eletrônicos.
O que tem a ver com a física quântica: Transistores dependem de
uma propriedade singular dos semicondutores para operar. Graças às descobertas
da mecânica quântica foi possível passar dos inseguros tubos de vácuo do ENIAC
para computadores mais confiáveis e cada vez menores.
Onde se usa isso: Basicamente, em tudo que é eletrônico: de computadores a
tablets, passando por GPS, satélites, naves espaciais, aviões, radares, entre
outros.
Laser:
O que é: Dispositivo que produz radiação eletromagnética com
características muito especiais, como se propagar como um feixe de ondas
paralelas e possuir um mesmo comprimento de onda.
O que tem a ver com física quântica: Lasers funcionam quando
agitamos os elétrons que orbitam átomos, os quais emitem fótons conforme
retornam aos seus níveis mais baixos de energia. Os fótons emitidos fazem
outros átomos liberarem fótons com o mesmo nível de energia e direção, criando
um feixe de fótons que vemos como o raio laser. Todo esse processo funciona
baseado num dos princípios fundamentais da mecânica quântica, que estabelece
que a luz se propaga em “pacotes” chamados Quanta (meio que como a transmissão
de dados via internet) e o laser funciona estimulando a emissão de um quanta
específico de energia.
Onde se usa isso: Tudo que usa lasers, como o espectroscópio, scanners de
código de barras, microscopia, sistemas militares de defesa, CD e Blu-Ray
players, entre outros.
Gerador de números aleatórios:
O que é: dispositivo desenvolvido para gerar números realmente
aleatórios.
O que tem a ver com física quântica: Por mais estranho que
pareça, jogar um dado gera números aparentemente aleatórios, mas não realmente aleatórios.
Acontece que a única aleatoriedade verdadeira acontece ao nível quântico (ex.:
com informações suficientes, os cientistas são capazes de predizer resultados
de uma jogada de dados). Já ouviu falar do Princípio da Incerteza de Heisenberg? (os fãs
de Breaking Bad vão
ter outra percepção da série agora) Nele, se estabelece que, a nível quântico,
não podemos determinar com precisão e simultaneamente a posição e o momento de
uma partícula. Aproveitando-se dessa imprevisibilidade, os cientistas criam o
equivalente a um “dado quântico” gerando algo chamado “ruído quântico”, através
de flutuações no vácuo. Medindo os níveis aleatórios de ruído produzido, os
pesquisadores podem desenvolver números realmente aleatórios.
Onde se usa isso: Estatística, simulações de computador, criptografia, e em
qualquer área que necessite produzir resultados totalmente aleatórios.
Relógio Atômico
O que é: Relógio ultrapreciso (na verdade, o tipo mais preciso de
relógio já criado)
O que tem a ver com a Física Quântica: O ruído quântico, por
ser totalmente aleatório, limita a precisão do relógio para medir a vibração
dos átomos de césio (que é como estes relógios funcionam). Mas, com este
conhecimento, foi possível para pesquisadores de duas universidades alemãs
desenvolverem uma forma de suprimir estes níveis de ruídos manipulando os
estados de energia dos átomos de césio nos relógios atômicos.
Onde se usa isso: Em diversas aplicações que necessitam de uma precisão
realmente grande, como quando engenheiros precisam calcular trajetórias para
espaçonaves, para saber precisamente quão veloz o objeto de destino, seja uma
estrela ou asteróide, está se movendo.
Fora isso, ainda podemos citar outras aplicações conhecidas e
que sabemos que, em breve, irão avançar muito nossa tecnologia, como computação
e criptografia quântica, transmissão de informações virtualmente instantâneas e
até teletransporte.
Eu poderia ficar
citando aqui outros exemplos, mas este texto é apenas uma forma de demonstrar o
quanto a mecânica quântica não é uma teoria dissociada da realidade prática e
nem suas aplicações são novidade; pelo contrário, sem ela, nossa evolução tecnológica durante o século XX não
teria sido possível.
Descubra
como a física quântica está mais presente no nosso cotidiano do que imaginamos.
A física quântica começa a confundir a cabeça
de qualquer um quando se percebe que a maior parte dos conceitos válidos no
universo para eu, você, a Terra e até mesmo o Sol, simplesmente deixam de valer
no mundo subatômico. Mas não se preocupe, a física quântica não está aqui para
dar um nó no seu cérebro, mas sim para mostrar como compreender a forma que as
partículas subatômicas interagem pode mudar a nossa vida.
Computadores
Todos os dispositivos digitais da atualidade utilizam a física
quântica para poder funcionar. Se não fosse por ela, provavelmente você ainda
estaria lendo esse texto em um jornal ao invés de seu notebook, tablet ou
smartphone. O componente básico que compõe um computador é sua CPU, o cérebro
da máquina. Ele é composto de milhares de transistores, peças que funcionam
como interruptores de “ligado” e “desligado”.
Essa ideia é fundamental para o funcionamento
da computação da máquina, pois o “ligado” é interpretado pelo computador como 1
e o “desligado” como 0. A representação binária depois é convertida por uma
série de programas até chegar a algo que um ser humano possa compreender. Ok,
mas e onde a física quântica entra nisso?
Cada transistor é composto de Sílica, um metal semi-condutor que
permite que os elétrons dos átomos assumam estados de energia distintos. Mas
somente a Sílica não basta, então outros elementos como Fósforo ou Boro são
misturados e criam um componente lógico que permite a programação dos estados
dos elétrons. Assim, quando a corrente elétrica passa pelo transistor, é
possível perceber o estado de energia do elétron para indicar se o interruptor
está “ligado” ou “desligado”.
LED
Aproveitando o conceito dos semi-condutores, vamos explorar
outra aplicação da física quântica: a tecnologia LED (Light Emitting Diodes – Diodos emisores
de luz). Essa tecnologia está presente hoje na maior parte das
telas de smartphones, TVs, computadores e nas lâmpadas também. Aqui a ideia
quântica do funcionamento dessa tecnologia também é muito simples de se
compreender.
Basicamente, o diodo LED é composto por dois tipos de materiais
semi-condutores, separados por um região chamada de “ativa”. Quando uma
corrente elétrica passa pelo diodo, o elétron entra por um dos semi-condutores
em um estado de energia e sai pelo outro em um estado diferente. Nessa
passagem, ele perde energia em forma de luz, através de partículas menores
ainda chamada de fótons.
A tecnologia LED avançou muito para tornar a luz emitida pelos
elétrons mais forte e mais branca, além de ser capaz de gerar uma quantidade de
luz muito maior com um gasto de energia elétrica bem menor quando comparada com
tecnologias anteriores como as presentes em lâmpadas fluorescentes.
Câmeras digitais
Os diodos que utilizam tecnologia quântica também estão
presentes nas câmeras digitais. Nesse caso, eles são chamados de fotodiodos e
estão presentes em cada pixel dos sensores da lente da câmera. Por esse motivo,
quanto mais megapixels o dispositivo possuir, melhor será feita a captura da
imagem, produzindo resultados com resoluções cada vez mais superiores.
Da mesma forma que a tecnologia dos semi-condutores, os
fotodiodos recebem luz e geram uma corrente elétrica que muda o estado de
energia dos elétrons ao passar de uma ponta a outra do diodo. Na “ponta” final
do diodo se encontra o “negativo” do sensor, que captura o pixel que, junto dos
outros pixels capturados pelos inúmeros sensores, gera a imagem final.
Lasers
A física quântica aqui se encontra no processo que os lasers usam para
criar o feixe de luz intensa: emissão estimulada. Um elétron de um átomo é
estimulado para um nível de energia
liberada em forma de luz monocromática do laser.
GPS
Atualmente quase todos os dispositivos móveis possuem
tecnologia GPS (Global Positioning System –
Sistema de Posicionamento Global), que lhes permite identificar a localização do aparelho no
mundo com um alto grau de precisão. O sistema funciona por meio de uma série de
satélites ao redor do globo que enviam sinais aos aparelhos.
O principal requisito para que o sistema
funcione é que os relógios internos dos satélites precisam estar sincronizados entre
si, já que eles enviam o sinal ao aparelho de tempos em tempos para gerar sua
localização exata no globo.
Para gerar esse sincronismo, os sistemas digitais dos satélites
utilizam um relógio quântico, que utiliza como contador um átomo de Césio, que
gera o horário conforme a frequência de transição de estado de energia de um
elétron para um nível alto (spin up) ou para um nível baixo (spin down).
Então, da próxima vez que você ouvir falar de física quântica,
não fique assustado. Ela está mais próxima do nosso cotidiano do que podemos
imaginar, apesar de continuar parecendo confusa e complexa de ser compreendida.
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